Lembro-me quando criança, esperava diariamente mais uma edição da Folha de São Paulo chegar em minha casa. Isso começou a aconteceu quando incentivado por meu irmão Alessandro minha mãe Joana assinou e por muitos anos o maior jornal do país. Sinceramente não sei se isso me ajudou a escolher minha profissão, mas, com certeza me influenciou nas primeiras leituras [com a folhinha] e principalmente, na arte de escrever.
Pois é! Ao celebrar os 95 anos de fundação, a Folha de São Paulo, promoveu na quinta (18) e sexta-feira (19), o Encontro Folha de Jornalismo. Foram sem dúvidas oito mesas que discutiram profundamente os rumos dos jornalismo, principalmente, o impresso na era digital.
Logo na abertura do evento, em seu discurso, o diretor de redação Otávio Frias Filho, lembrou que os jornalismo vive um profundo paradoxo, pontuado perfeitamente dois pontos que o jornalismo impresso vivem atualmente. O digital e sua transformação tecnológica e a sustentação financeira do jornalismo.
Em seu primeiro ponto, Otávio comenta sobre a era da comunicação digital, onde diversas organizações e movimentos criam seus próprios meios de distribuição das informações causando quase que instantaneamente diversas interpretações do fato. E para propor uma separação do que é proposto por essas organizações [muitas das vezes parciais], das grandes mídias – chamam as empresas de ‘jornalismo profissional’. Isto é, um periódico do mundo, abrangente, isento e confiável.
Já no segundo ponto, ele lembra que há um promissor caminho com o aumento de assinaturas digitais, mas, que a publicidade [um dos principais pilares de sustentação econômica do jornalismo profissional] ainda é muito problemático. O que fará que muitos jornais reinvente para sobreviver nesta selva.
No final de seu discurso, Otávio Frias Filho citou seu pai Octávio Frias de Oliveira, que gostava muito de provérbios. Em um deles dizia: “Where there is a will, there is a way” –onde houver uma vontade, há um caminho.
Portanto, não só a Folha de São Paulo, mas, todos os jornais impressos desse país deverá buscar novos caminhos, novos horizontes, enquanto ainda houver vontade. Nós próximos dias farei resumo das mesas de debate.
LEIA A ÍNTEGRA DO DISCURSO
Senhoras e Senhores, Prezados Expositores e Convidados, Caros Colegas:
O jornalismo vive um profundo paradoxo. Nunca se divulgou nem se leu tanta notícia como hoje. Uma série de veículos surgiu ou se espraiou pelas novas plataformas de comunicação. Uma imensidade de novos leitores se acrescentou ao leitorado tradicional. As redes sociais se tornaram uma ampla câmara de ressonância e debate sobre o que é publicado nos próprios meios jornalísticos.
Essa diversidade tem sido benéfica para o público. Variantes de jornalismo comunitário, militante, autoral e até de entretenimento contribuem para a pluralidade de ângulos. Mas são parciais.
Não podem nem pretendem reproduzir a referência do jornalismo profissional, que procura fazer um resumo periódico do mundo, resumo sempre precário, mas tão abrangente, isento e confiável quanto possível –e tendo boas razões de mercado para se empenhar em perseguir esse ideal.
Por outro lado, e daí o paradoxo, os pilares de sustentação econômica do jornalismo foram abalados pela transformação tecnológica. Bom jornalismo é atividade dispendiosa. Embora exista um público muito promissor disposto a remunerar o trabalho jornalístico na forma de assinatura digital, a perspectiva publicitária nesse campo tem se mostrado mais problemática.
A equação econômica que permita sustentar o jornalismo como serviço independente e criterioso, movido pelo espírito público, ainda está por ser solucionada. Este será, com certeza, um dos temas neste encontro.
Mas os avanços na escolaridade e o próprio aumento da classe média em escala mundial são motivo para confiança. Preparam, por assim dizer, a demanda, um leitorado cada vez mais numeroso e com mais discernimento.
Dada a qualificação dos participantes, é certo que as discussões de hoje e amanhã vão propiciar uma troca de experiências preciosa sobre os caminhos da profissão. Vão iluminar também a tempestade de crises –econômica, política e por assim dizer judicial– que se desatou sobre o Brasil.
Em nome da Folha de S. Paulo, agradeço a presença de cada um de vocês e em especial dos debatedores que em breve estarão expondo os seus pontos de vista aqui. Não é todo dia que um jornal faz 95 anos, e será o caso de estender –a data é amanhã, 19 de fevereiro– esse agradecimento aos que fizeram da Folha o núcleo de um grupo de comunicações que tanto cresceu e se multiplicou.
Aos que fizeram desse jornal um serviço público, um estilo de imprensa e até um ícone. Aos profissionais que trabalharam e trabalham nesse empenho coletivo. Aos anunciantes, fornecedores, parceiros, clientes, colunistas, aos leitores.
Nossa celebração é austera, esta introdução deve ser breve. A melhor resposta a este período de dificuldades e desafios me parece estar naquele provérbio inglês que Octavio Frias de Oliveira, que conduziu e inspirou este empreendimento durante décadas (e que gostava de provérbios), costumava citar.
“Where there is a will, there is a way” –onde houver uma vontade, há um caminho. Parabéns. Muito obrigado.