Ela releva que a arte é transformadora, fazendo ter um olhar diferenciado para todas as circunstâncias, principalmente, com a valorização do artista
Há quatro anos, a atriz Mônika Norte, 24, nos encanta com a marcante interpretação de Sônia – uma livre adaptação do texto Valsa nº 6, do dramaturgo carioca Nelson Rodrigues. Como a própria sinopse do espetáculo diz: “Sônia é menina e mulher, cômica e trágica. Ora enjoada, ora delirantemente sensual, misturando memória e invenção diante da plateia. Uma personagem profundamente perturbadora”.
Mas, isso é fruto de dois anos e meio sala de ensaio, entre pesquisas e montagem de uma criação totalmente coletiva, sendo que o grupo adaptou todo texto, recriaram o nome do espetáculo. “Cada um tinha sua responsabilidade dentro do espetáculo, porém todos com o mesmo objetivo. Nós do grupo [Cia. Pano de Fundo], frequentamos espaços como a Saúde Mental para ter contato com pessoas portadoras de esquizofrenia, assistimos documentários e lemos muito sobre o assunto. Além disso, pessoas como minha mãe, Marcos Filipim e Laranjeiras ajudaram na montagem solucionando questões que para nós eram muito caros”, comenta.
Neste espetáculo, Mônika teve que desapegar de uma das coisas que mais amava. “Ter que desapegar do meu cabelão, por causa da proposta do personagem foi muito intenso, ter que cortar aquilo que eu amava, foi um pouco dolorido, mas sobrevivi. E pela arte fazemos algumas loucuras”.
Para a Mônika o espetáculo “Sônia” significa amor, respeito, sensibilidade, sacrifício, suor, alma. “Só a gente sabe a dor e a delícia de participar de um processo de espetáculo, conseguir concretizar e sair pela região mostrando o trabalho em festivais e trazendo para o público uma reflexão, um sentimento é maravilhoso”.
Com a peça ela participou de festivais de teatro no estado de São Paulo. Além disso, participou da fase regional do Mapa Cultural Paulista, onde recebeu menção honrosa de melhor atriz da região de Araçatuba.
Trajetória
Mas, Mônika não iniciou sua carreira neste espetáculo. Sua trajetória começou muito antes, aos 13 anos, em um projeto pelo diretor teatral e atualmente secretário de cultura, Luiz Carlos Colevatti. Começou com treze anos através de um projeto que era realizado na escola Luiza Maria Bernardes Nory, onde as coordenadoras e diretora me incentivaram pois eu era, mentira ainda sou muito, mas, muito tímida”
De lá pra cá, ela não parou mais e subir ao palco era ao mesmo tempo um desafio e um acalento. “É uma sensação que dá vontade de chorar, eu não sei explicar . É uma energia diferente. Primeiro dá um frio na barriga, depois meu coração parece sair pela boca, mas é uma sensação que parece que me deixa mais forte, que eu necessito estar ali, expressar de alguma forma aquilo que é proposto com todas as minhas forças e garras. É uma sensação bonita, mas eu não sei explicar direito como é estar no palco. Talvez é isso, é uma sensação inexplicável”, lembra.
Tanto é, que para Mônika a arte é transformadora, fazendo ter um olhar diferenciado para todas as circunstâncias, principalmente, com a valorização do artista.
“A arte nos torna sensíveis e também nos deixa forte. Dando forças, para enfrentar a batalha diária de ser artista, pois, não é nada fácil. Uma profissão que é pouco valorizada, na qual é contada nos dedos os apoios que a classe artística tem. A arte exige muito de quem escolheu estar. Exige estudo, exige dedicação, exige ser verdadeiro com a arte. Exige estar por completo. Tem que amar, amar muito. Tem que vir de dentro a vontade, pois se não a desistência de quem depara com a realidade é quase instantânea”.
Não é a toa que o desejo e o sonho dessa jovem atriz de 24 anos é ver toda a classe artística, seja ela teatro, da música, artes plásticas, dança, ou de qualquer outra sejam valorizadas.
“Necessitamos conseguir viver da nossa própria arte. Sem precisar ter vários empregos para auxiliar na renda. Conseguir viver de arte, igual o médico ou engenheiro vivem da sua”.
E ainda faz uma reflexão:
“Eu não sei onde quero chegar, o que eu sei é que não quero que tenha fim. Que eu possa descobrir sempre enquanto atriz. Que eu aprenda de alguma forma descobrir como descrever o que eu sinto quando estou no palco, caso alguém me perguntar de novo. Que eu possa transmitir da melhor forma o que a minha arte quer expor. Eu acho que nunca disse que sou atriz, estou dizendo aqui pra você. Talvez esse seja um dos meus sonhos, conseguir um dia abrir a boca e dizer: “Eu sou atriz”. Por mais que já faz bastante tempo que estou nesse universo lindo do teatro, por mais que já ouvi coisas lindas de profissionais que eu admiro muito falar sobre o meu trabalho e críticas construtivas também que sempre são bem vindas, ainda não me sinto completa, ainda tenho muito chão para caminhar, muita informação para absorver, tenho muito ainda para sentir, muito palco para enfrentar. Acho que a partir disso conseguirei dizer ” Eu sou atriz”, mas nunca esquecer das origens e nem parar de buscar, pois o conhecimento é algo que não tem fim, e a busca do desconhecido é longa e linda”, finaliza.